Necessária solidão

"É na solidão, onde cada um está entregue a si mesmo, que se mostra o que se tem em si mesmo.Nela, sob a púrpura, o simplório suspira, carregando o fardo irremovível da sua mísera individualidade, enquanto o mais talentoso povoa e vivifica com os seus pensamentos o ambiente mais ermo." Arthur Schopenhauer

segunda-feira, agosto 13, 2007

Tam, tam, tam,tam.....

Dá realmente o que pensar a forma pela qual a grande mídia tratou o trágico acidente da TAM. Sôfregos, e apriorísticos como lhes convém, não vacilaram em tentar inculcar na opinião pública a idéia de que "a culpa é do governo Lula". Tão esdrúxula quanto estúpida, o fato é que essa tese foi sendo construída de uma forma que faria inveja ao Dr. Goebbels. Os "bocas de aluguel" não perderam tempo em agradar aos seus patrões, dizendo e escrevendo coisas sem a menor fundamentação. Tudo em nome da "liberdade" de uma imprensa que, de tão hipócrita e comprometida com a pecúnia, por suas atitudes faz exatamente o jogo daqueles que, intimamente, querem e semeiam a antítese da "liberdade".

quinta-feira, agosto 02, 2007

Os noventa anos do "seu Afonso" !

Hoje, 2 de agosto, meu pai completou 90 anos de idade. E fatos como esse não ocorrem a todo momento, embora a expectativa média de vida tenha aumentando ao longo das últimas décadas. Ao telefonar-lhe, para desejar os parabéns, antes pensei com os meus botões: O que dizer para alguém que completa 90 anos, especialmente sendo essa pessoa o seu pai?!

"Seu Afonso" mora em Santa Maria - RS, com minha mãe, "Dona Jurema", que completará 83 anos de idade em 16 de dezembro próximo. Há cerca de 25 anos, deixei Santa Maria e vim trabalhar em Santa Catarina. Há 25 anos, portanto, tenho acompanhado à distância o seu envelhecer. Mesmo quando convivi com meu pai, fiquei sempre com a sensação de que esse homem representava um enigma: sempre muito severo com seus 13 filhos, implacável quando o assunto era disciplina, o taura parecia não estar escutando quando se lhe dirigia a palavra, como se seus filhos não merecessem a reverência da escuta. De origem extremamente humilde, nascido em 1917 no interior de Dom Pedrito - RS, no meio de uma prole de 12 irmãos, aos 18 anos entrou para o exército, “por necessidade”, como faz questão de lembrar. Aos 21 anos, como cabo do exército, comprometeu grande parte de seu salário para comprar “à prestação” uma coleção inteira dos “Sermões do Padre Antonio Vieira”, livros cuja erudição não era exatamente o que se esperaria encontrar num “homem da caserna”. Sempre atento e fazendo um grande esforço para atender à função de provedoria que naqueles tempos se exigia de um pai, conseguiu garantir a oportunidade do “estudo” a todos os seus 13 filhos.

Estão vivas nas minhas lembranças da infância, as tardes chuvosas de inverno em que, num galpão que havia nos fundos de nossa casa, eu o auxiliava a “compactar” o couro que seria utilizado para a feitura dos calçados que usaríamos. Ou então, aquelas duras tardes em que o café com farinha de mandioca substituíam o leite e o pão....

Não tivemos muitas oportunidades de aprofundar nossas conversas ao ponto desejável em que pai e filho se encontram para compartilhar suas angústias e se ver na sua condição de seres humanos que sonham e que lutam. E por isso mesmo, não se dão as oportunidades de reconhecerem suas imperfeições e suas limitações. Ou nem mesmo de se alegrarem com seus acertos.

Por essa razão, meu pai, neste dia em que festejas teu nonagésimo aniversário deixo-te esta carta: uma adaptação de um texto de Augusto Cury, em seu livro “O Futuro da Humanidade” que, aliás, foi presente que você me deu no dia do meu aniversário, talvez numa inveja positiva, porém subliminar, do pai que recebeu essa carta de seu filho Marco Pólo, personagem principal do romance:

Desculpe-me pelas atitudes que tomei. E também pelas que deixei de tomar. Sei que algum dia posso ter te ferido por minhas críticas precipitadas. Perde-se muito tempo julgando. Eu tenho a impressão de que não o conheço interiormente, embora tenha vivido com você durante tantos anos. Fomos quase estranhos morando na mesma casa. Mas podemos apostar que o tempo ainda nos permita esse conhecimento? Gostaria de saber quem realmente você é, quais foram as lágrimas que você não chorou, quais foram os dias mais tristes da sua história e quais foram os desafios que você nunca teve a coragem ou a oportunidade de me contar?! Gostaria de poder retroceder no tempo para ouvir a tua história, teus projetos, teus sonhos, tuas derrotas. Tenho certeza que seria fascinante. Tenho muitos defeitos, assim como você certamente tem. Mas hoje quero esquecê-los. Quero só lembrar de tuas qualidades, te desejar Feliz Aniversário e te pedir uma nova chance de ser teu amigo.