Necessária solidão

"É na solidão, onde cada um está entregue a si mesmo, que se mostra o que se tem em si mesmo.Nela, sob a púrpura, o simplório suspira, carregando o fardo irremovível da sua mísera individualidade, enquanto o mais talentoso povoa e vivifica com os seus pensamentos o ambiente mais ermo." Arthur Schopenhauer

domingo, outubro 16, 2011

Para que servem as utopias?! What are the utopias made for?!

segunda-feira, outubro 10, 2011

O que você faria?

João Gilberto e seu Lamborghini

Desfrutar de uma aposentadoria tranqüila era o sonho de João Gilberto. Para garanti-la, investiu todas as suas economias na compra de um Lamborghini amarelo, que era objeto de toda sua admiração e cuidado. Todo final de semana, porém, João Gilberto tirava seu Lamborghini da garagem para dar um passeio pelos arredores da cidade. Se assim não o fizesse, seu tesouro poderia sofrer o desgaste causado pela corrosão que inexoravelmente acontece a um carro parado por muito tempo.


Naquele sábado resolveu caminhar próximo à linha férrea, que circundava a cidade. Estacionou seu carro no final de um dos desvios da ferrovia e pôs-se a andar. Decorrido algum tempo, ouviu o apito de um trem que se aproximava. Inicialmente esse fato não lhe chamou muito a atenção, uma vez que já se acostumara com aquele som desde a infância.

Ao olhar para a direção oposta àquela do trem, quase entrou em desespero. Percebeu que uma menina brincava distraidamente sobre os dormentes da via férrea e o pensamento na tragédia que poderia acontecer o aterrorizou. Percebeu que a distância era muito grande para que pudesse livrar a menina do perigo e que algo precisava fazer. Neste instante percebeu que a chave que desviaria o curso do trem estava bem próxima e que esta seria a única possibilidade de salvar a menina. Percebeu, também, que ao mudar a trajetória do trem destroçaria o Lamborghini, estacionado exatamente no final daquele desvio.


João Gilberto não vacilou. Puxou a alavanca, mas ao fazê-lo percebeu que seu pé ficara preso aos trilhos e que a única maneira de salvar seu pé de também ser destroçado seria trazer a chave à sua posição original, embora isso significasse manter o trem em sua trajetória em direção à menina...

Aos meus alunos...os que foram, os que são e os que serão!

Foi, e tem sido, uma grande satisfação o convívio com vocês. Espero ter conseguido dar uma singela contribuição à difícil missão de formar médicos, no amplo sentido que essa palavra evoca. Sobre muitos temas conversamos. Todos com uma clara intenção: lembrá-los de que o exercício da Medicina é uma arte. Arte enquanto se defronta com situações que extrapolam o campo da técnica e da ciência; arte enquanto lida com pessoas em grande parte fragilizadas física e emocionalmente; arte enquanto verifica a subjetividade no encaminhamento da solução, cujo alcance, por vezes, passa pela escolha e decisão entre vários rumos possíveis.
Possuir vasto conhecimento médico-científico, certificados de pós-graduação ou doutorado, ou até mesmo muitos anos de exercício da profissão, não necessariamente significa que o profissional possa ser qualificado dentro de um padrão elevado. Assim, a postura com que o mesmo se coloca ante as diversas situações que enfrenta no dia-a-dia junto a seus pacientes constitui importante indicador de sua eficiência.
Nesse sentido, tenho para mim a percepção de que, a exemplo da própria vida, a boa prática da medicina é o resultado de certa sabedoria em administrar as incertezas, que estarão sempre presentes. Tendo isso em mente, busquei recuperar em meio à literatura um interessante código de conduta apresentado por Irving H. Cage, ex-diretor da revista Modern Medicine, com pequenas modificações efetuadas por Bemard Wortis, ex-diretor da New York University Medical School e algumas adaptações que ousei realizar. Apesar das décadas de existência, o código mantém-se atual e consiste num instrumento útil de orientação ética e base para uma serena reflexão. Boa Sorte!

Prof. Plinio A. F. Silveira

"The Doctor" - pintado em 1891, por Luke Fildes

Prática Médica
Dez Mandamentos Fundamentais


I. Nada substitui o que se assimila no contato direto com as pessoas: uma boa anamnese, um exame físico minucioso e a perspicácia clínica que resulta da experiência. Disciplina clínica não pode ser aprendida apenas no laboratório, ou através de leitura ou palestras.

II. A boa prática médica é trabalhosa e exige dedicação. Não é possível tratar-se apressadamente pessoas doentes obedecendo-se a horários rígidos. Exponha claramente a realidade à pessoa ou à família, durante o tempo que for necessário.

III. Seja otimista: muitas doenças são auto-limitadas e aliviadas sem muita interferência do médico (o resfriado comum é um bom exemplo, freqüentemente tratado de forma exagerada).

IV. Seja paciente! Um período de observação é, em certas ocasiões, o único caminho para um diagnóstico correto. Não procure impressionar seu doente ou a si mesmo com uma quantidade desnecessária de exames complementares.

V. Não seja por demais erudito. Lembre-se de que as doenças mais comuns ocorrem com maior freqüência; pense nelas primeiramente.

VI. Não execute nas pessoas nenhum exame que você não faria em si mesmo ou em seus familiares, em idênticas circunstâncias. Não faça excesso de testes que eventualmente possam expô-lo ao risco de complicações iatrogênicas.

VII. Use novas drogas com cautela; é preferível manejar poucos medicamentos básicos com perícia e segurança do que utilizar os últimos lançamentos do mercado, que ainda não possuem sólida base experimental. Muitas doenças iatrogênicas resultam do uso indiscriminado ou excessivo de drogas, como por exemplo antibióticos, tranqüilizantes, esteróides e anti-inflamatórios. Por outro lado, é importante considerar o aspecto psicológico dos casos e usar critérios de bom senso. Desse modo, faz parte também da arte médica saber quando tirar proveito do uso do placebo, eficaz em numerosos casos.

VIII. Conheça a si mesmo: sua força e suas fraquezas. Extraia frutos da insatisfação de seu trabalho. Cultive a curiosidade acerca das doenças, mas trate tão bem o enfermo quanto a enfermidade. Quando tiver dúvidas, procure o auxílio dos mais experientes. Cultive o senso de humor e o verdadeiro sentido de humildade. Não permita que a admiração das pessoas influencie seu raciocínio e conduta.

IX. Cultive a discrição quanto a nomes e doenças perante familiares e amigos dos doentes.

X. Retire sempre uma lição a partir dos erros; errar ocasionalmente é humano, mas cada erro deverá transformar-se em aprendizado e, obviamente, jamais ser repetido.